agosto 16, 2010

Suícidio.

Passou a lâmina fria pelos dedos trêmulos. Dentro de seu corpo algo gritava pelo sangue, pela dor, pela vida. Era uma contradição ambulante, precisava sentir a morte para se encontrar com a vida.
A lâmina passou pelo pulso, congelada, decidida. O lábio inferior parecia reclamar, pulsava cada vez mais forte contra o aperto dos dentes enquanto a pele era rasgada.
Um filete vermelho tingiu onde a faca havia passado, pulsante, irritada pelo frio. Tanta dor para um arranhão!
Direcionou a faca para onde o arranhão parecia mais profundo e deixou que a ponta perfurasse a carne. Arrastar a faca, era só isso o necessário. E foi o que fez, apesar da dor física e dos gritos dos Querubins.
O sangue escorria pelo pulso dolorido, manchava e confundia corpo e faca.
Os lábios se entreabriram para um grito de dor enquanto a faca saia sa carne. O pulso tombava colorido de vermelho. A faca jazia na mão boa, ainda não pronta para descansar.
Com a mesma faca que lhe cortara a carne, cravou o peito sem mais forçar para gritar, ou para procurar vida.
Uma risada. Foi o que ecoou pelo cômodo vermelho antes do coração dar-se por vencido e parar de emanar vida.
A visão do que procurava surgiu como vapor, embaçada demais pela Morte.
Opostos não podem permanecer por muito tempo juntos. Vida e Morte não seriam uma excessão. Deveria ter contado isso antes.
- J.

agosto 15, 2010

Vazio

Preciso chorar. E eu quero chorar. Mas não sei se tenho coragem de me deixar sentir as lágrimas, de deixar elas marcarem meu rosto com o que sinto. Tenho medo das cicatrizes. Tenho medo do que vem depois delas.
E não há um caminho que me leve pra fora daqui, todos eles só me afogam mais e mais. Só me fazem queimar por dentro, só consomem minha alma.
E eu quero ser forte e encarar tudo isso com um sorriso enorme, mas a solidão é tão mais forte! Como me sinto sozinha, Deus!
O pior de tudo, o que torna o vazio mais insuportável, é toda essa gente ao meu redor. É saber que elas vão rir quando eu demonstrar que estou mal, saber que vão me chamar de louca quando eu chorar (aparentemente) sem motivos, saber que de todas elas, nenhuma vai entender o motivo das minhas lágrimas.
E o que resta? Notas musicais soando pelo corredor e quebrando-se contra a porta. Impenetrável, inviolável. Tudo isso mata aos poucos. Mata deixando as coisas não entrarem, não se aproximarem de mim. E no fim, não há como seguir em frente, porque todas as portas são como essa - invioláveis.
Dentro só existe fome. Dentro de mim só existe fome. Fome de sentidos, de amor, de sentimentos e de algo pra fazer o sangue correr. Algo pra aquecer e pra me manter viva. É isso tudo o que falta.
E o silêncio ecoa pelo quarto, matando qualquer esperança de vida fora daqui. É assim que pessoas matam. É assim que pessoas morrem.
- J.

agosto 03, 2010

Fell it.

E então ele estava ali. Seus olhos se iluminaram quando a encontraram. Os braços se enlaçaram em corpos conhecidos - reconhecidos e tudo fluiu como se fosse muito natural.
Não era natural. Era como se eles saissem do planeta, do universo, da galáxia! Era como se só existissem os dois parados ali. Só o calor suave dos corpos, só os cheiros se confundido.
Ela suspirou. Ele também.
Os lábios se tocaram com urgência enquanto as mãos desenhavam contornos imperfeitos em corpos conhecidos - reconhecidos. Houve uma estrondo ao longe, que os fez rasgar o infinito e retornar ao ponto inicial.
Corpos separados e intactos. Olhos presos e concentrados em desejos imperceptíveis.
A distância os mataria.
A distância os matava pouco a pouco. O frio também. Sim, sem o calor trocados pelos corpos não havia sensações. Havia o frio. Havia a dor da separação.
Havia também o silêncio de pedra. O silêncio que matava, que separava.
- Pra sempre ... - Ela sussurrou delicada, longe o bastante para que as palavras jamais tocassem os ouvidos do outro.
- ... seu - Ele completou junto à ela, enquanto a mesma completava a frase de forma semelhante.
Apesar da distância, dos corpos separados e do frio que abraçava seus corpos, eram um do outro. Ninguém jamais mudaria isso.
Pra sempre - não parecia tempo demais pra corações comprometidos com o Amor.