dezembro 10, 2011

Seu corpo ardia em culpa. Sentia-se a pior das pessoas. Avaliava o próprio erro, os próprios erros, um milhão de vezes. E a cada vez, o peito apertava-se de uma forma diferente. As sensações variavam entre tristeza, arrependimento e um sentimento de que não podia ser a única errada nessa história toda.
   Varreu o quarto com o olhar até encontrá-lo no canto oposto ao seu. Os olhares se cruzaram por um segundo e ela sentiu-se incapaz de sustentar os olhos dele por mais algum segundo. Fechou os próprios olhos com força como se assim, pudesse apagar a realidade e o que a atormentava. Uma lágrima escorreu pelo canto do olho esquerdo, deslizando pela face até o queixo, onde pendeu e com um último grito de angústia, pingou para o moleton gasto.
   A lágrima pareceu afetar o homem do outro canto do quarto. Ele suspirou, deslizou as mãos pelos cabelos e fechou os olhos, um ar cansado tomando-lhe a face. Coçou a nuca. O olhar não saia nunca da mulher sentada ao lado da cama, no canto mais escuro do quarto.
Era mais do que distância que os separava. Todos os erros, todas as máscaras, todas as verdades escondidas, todas as incertezas e inconstâncias. Tudo... Tudo estava palpável demais naquele quarto.
   O homem apertou os olhos com o polegar e o indicador da mão direita, balançou a cabeça negativamente, como para afastar um pensamento ruim e afrouxou a gravata antes de dar um primeiro passo na direção errada. Ele caminhou até o banheiro. Retirou o terno, lavou o rosto e olhou-se no espelho. E todos os próprios erros o olharam de volta.
   Encolhida no seu canto, ela abriu os olhos ao ouvir os passos dele. Apenas observou-o ir até o banheiro, contendo a esperança de que ele viesse em sua direção. Seu coração, já trincado, espatifou-se em um milhão de pedacinhos incoláveis ao notar que ele estava de costas, olhando o próprio reflexo.
   Talvez, aquela relação tenha sido sempre assim: ambos olhando apenas para si próprios. Os erros acumulando-se dos dois lados até uma das partes quebrar-se. E quebrou-se. O coração dela quebrou-se.
   O silêncio adensava-se nas paredes, escorria delas para o chão. E a dor fazia arder as narinas de ambos.
   A mulher levantou-se ao mesmo tempo que o homem virou-se do espelho. Ele era incapaz de fitar e aceitar os próprios erros sem querer revê-los, consertá-los. E ela era incapaz de continuar ali, com todo aquele silêncio, toda aquela dor e todos aqueles erros fazendo o quarto feder.
   Os olhares se cruzaram novamente. Dessa vez, nenhum dos dois foi capaz de recuar. Ele apoiou-se na pia. Ela deu dois passos para trás, na direção oposta à porta, para a parede, até encostar-se e ter algum sustento.
   Ele soltou a pia. Retirou a gravata e abriu alguns botões da camisa social. Os botões das mangas. Um ou dois botões da fileira que se fazia diante de seu peito. Balançou a cabeça novamente, dessa vez, o gesto se mostrou mais suave. E então ele deu o primeiro passo na direção da mulher.
   O coração dela pareceu recompor-se o suficiente para palpitar. E ela desejou ter mais força para cravar os dedos na parede. Não tinha estrutura para suportar uma nova discussão. Ele parecia entender isso. Seu olhar era branco na direção da mulher.
   E ela entendeu. E soltou-se da parede. E deu um primeiro passo trêmulo na direção dele. E ele deu dois na direção dela, os braços estendendo-se para sustentá-la. E ela deixou-se perder em seu peito, em seus braços, o rosto afundado na camisa social do homem.
   Ele aninhou-a em seus braços. Deslizou uma das mãos pelas costas dela até a cintura, onde a puxou para si, apertando-a em seu peito e desejando reunir todos os cacos restantes dos erros. Acariciou o cabelo da mulher e sentiu as lágrimas dela molharem a camisa branca.
   E o silêncio mudou. Não era o silêncio que fedia e machucava. Era o silêncio que aguçava, que tranquilizava, que dizia que a paz havia voltado a reinar.
   Não importava o quanto errassem um com o outro. O amor era maior. Os erros eram esquecidos porque não precisavam deles. Precisavam apenas da certeza do amor. E o amor era tudo o que tinham. O amor era tudo o que importava. E o amor triunfaria, sempre.
   E ela o amava. E ele a amava. E o ar do quarto amenizou-se, tranquilizou-se, clareou-se. E houve luz. E houve amor.
   E eles se amaram. Amaram porque amavam. E amavam porque amaram. E eram um do outro. E nada mudava isso.

novembro 29, 2011

"Tês"

Traços, terços, traças, tranças, raças, rastros, ratos, rostos, restos.

Apaga, afaga, amarra, solta, segue, mata, esquece, toma, trai.

Tiro, teto, toco, traços, trazes, trancas, tomas, transferes, atiras.

E atira para o alto, para o mundo, para o fundo! Para o fundo do poço, para o fundo do rosto, para o fundo do corpo, da alma. Para o fundo. Para o fim do mundo.

Trocas, tracejas, trabalhas, trajas, titubeias e ATIRAS!

Para o alto. Para o fundo. Para o fim do mundo.

setembro 10, 2011

Números.

Um espectro, um retrato, um corpo. Uma luz que se apaga. Um. Um e meio. Talvez. Dois já não existem mais, não faz mais sentido. A porta que se fecha pra nunca mais abrir.

Eu preciso de algo. Algo que chegue quebrando minhas barreiras, impondo novos limites, que invada – que me invada -, que roube e que roube pra si. Algo que me roube um sorriso, algo que me faça querer acreditar e que acredite por mim também.

Um. Um e meio. Dois já não existem mais.

Um espectro, um retrato, dois corpos, nenhum sentido. Nenhuma luz, nenhuma salvação.

Um e um quarto.

O silêncio dói. O silêncio enxuga minh’alma. O silêncio corrompe, corrói, corre, corre por minhas veias, sem dó, sem medo. E sem luz, (Deus, como é escuro!) sem luz não faz sentido. Um, um e meio.

Talvez nenhuma porta se abra. Talvez os portões estejam selados. Selados pra mim e pra nós. E pra qualquer um que precise de algo. De qualquer coisa, mesmo que de uma simples brisa.

Essa porta que se fecha pra nunca mais abrir.

junho 28, 2011

Saudades

Desde a madrugada todas as feridas em meu peito estão abertas. As lágrimas saem delas cheias de saudade, cheias de desejos que não posso mais realizar. E os sonhos se esvaem enquanto busco um motivo para me manter em pé.
Desejo a todo momento ouvir sua voz, até mesmo seus passos. E sei que é um som que não tornarei a ouvir, apenas nos meus sonhos. E os motivos para continuar parecem tão apavorantes sem sua força por perto para me guiar e me proteger.
É como se tudo fosse escuro depois que você se foi, como se a noite tivesse dominado tudo e fosse impossível encontrar as palavras. É impossível encontrar as palavras para amenizar a dor.
A solução é aceitar que as feridas chorem, aceitar o vazio, aceitar a solidão durante a noite. A solução é esperar que você possa ouvir todas as noites o quanto digo e lembro que te amo, que você é tudo pra mim e que nada no mundo se compara ao amor que trago comigo, e que eu sinto sua falta, mais do que as palavras podem expressar, muito mais do que me sinto capaz de suportar.

março 21, 2011

Estava tudo tão frio e desconfortável que ela podia jurar que a Cidade mandava um aviso.
A Cidade dizia por entre o murmúrio do vento, repetia um milhão de vezes a mesma frase, jogando-a contra o rosto dela, revirando-lhe os pensamentos e adormecendo a mente.
Talvez seu tempo tenha passado, talvez seja hora de não só virar a página, mas mudar o livro.
E a voz cantante da Cidade, iluminada por faróis, semáforos e postes, choramingava, súplicava... Ordenava mais do que tudo. Ordenava que se mudasse o livro.
Jamais gostara de livros, a metáfora não entrava em sua mente, e mesmo com todo o frio inexplicável do verão e com toda a melodia que a cidade insistia em lhe cantarolar, não absorvia o aviso.
E não absorvia o aviso... Não sabia absorver. Faltava-lhe o conhecimento e o reconhecimento. Faltava-lhe o dom de saber que era hora de seguir em frente, mesmo que a Cidade não a tivesse avisado.
E continuava. Ia todos os dias aos mesmos lugares, revia os mesmos amigos - já cheios de amigos novos - em lugares que antes pertenciam a ela, lia os mesmos livros e não entendia as mesmas coisas. Chorava e irritava-se pelos mesmos motivos, continuava perdida em meio a sentimentos obsoletos e não correspondidos.
Obsoleta ela havia se tornado. E a Cidade cantava.
E ela não entendia.
E o frio açoitava-lhe o corpo e a alma.
E houve gelo. Houve neve. Houve um milhão de motivos, nenhum deles ela soube ouvir ou entender.
Houve o frio e houve o calor que ela não sentia. Houve a Cidade cantando, repetindo sempre a mesma frase.
Talvez seu tempo tenha passado...
E passou. Passou, e ela não soube nem virar a página. Manteve-se vidrada no passado, presa a sentimentos e recordações que dependiam de sua alma para sobreviver. E eles sugaram-lhe a alma.
E houve que "uma mulher foi encontrada congelada em seu apartamento". Houve que era verão quando isso aconteceu. Houve que, em seu peito, ao invés de um coração, encontraram um baú cheio de memórias envelhecidas e manchadas de sangue e de vento.
Houve o fim. E não havia mais nada.

março 01, 2011

Pai

É estranho como as palavras somem quando as procuramos. Estranho como para algumas pessoas, não há definição. Estranho como algumas pessoas, simplesmente, se tornam parte de nós e mudam nossas vidas completamente. E, para algumas pessoas, simplesmente não há definição, para algumas pessoas, só palavras jamais serão o suficiente, pois o que significam para nós, o que se tornam para nós, é maior do que qualquer palavra conhecida pelo homem.

Meu pai foi uma dessas pessoas indescritíveis, indefiníveis. E é, com certeza, é até hoje, alguém que não se pode definir com uma palavra só. Durante os 17 anos da minha vida, ele foi tudo o que pude imaginar: foi o amigo, o irmão, o herói, o exemplo, o caminho, ele foi o PAI, o único que me entendia, que ficava acordado comigo quando eu tinha pesadelos, o único que me socorria com dores de barriga e que ouvia meus sonhos mirabolantes. Meu pai era o único que acreditava, sem medo ou sem mentiras, em todos os meus sonhos. E, juro, que se eu dissesse para ele que 2+2=5, ele acreditaria, porque eu disse.

Papai sempre foi assim, sempre foi o que nos fez acreditar, o que nos deu forças. Sempre foi tudo o que queríamos, tudo o que precisávamos, e acho que nada que eu escreva aqui será suficiente pra explicar isso pra ninguém. Ninguém que não tenha vivido o que vivemos com papai iria entender o que quero dizer.

Ele foi, resumidamente, o homem mais incrível que conheci na vida, e não digo isso por ele ser meu pai, ou por eu amá-lo de forma imensurável. Digo isso, porque ele tinha um brilho natural, ele acreditava em si mesmo, e acreditava em todos que amava. Digo isso porque Papai cresceu superando limites, vencendo desafios e se tornando digno através disso. Diferente de muitos homens que conheço por aí, Papai era bom em tudo o que se dedicava. Ele conseguia ser um bom marido, um bom pai, um bom trabalhador, e conseguia nos amar acima de tudo, nos fazer as pessoas mais felizes do mundo.

Papai tinha uma doçura única, algo que jamais iremos encontrar em lugar nenhum no mundo. Seus olhos eram nossos faróis, e sua força era o que nos mantinha firmes, nos fazia acreditar e seguir em frente. E em cada detalhe dele, Papai se mostrava forte, um guerreiro invejável e cheio de amor.

Meu pai nos ensinou a amar, a nos dedicarmos umas as outras, nos ensinou a lutar por nossos ideais e não deixar qualquer um dizer que o que fazemos não é suficiente, Papai nos ensinou a acreditar, nos ensinou a ousar, a ir além do que esperam, além do que imaginam, além do que nós mesmos podemos acreditar. Talvez esse tenha sido o segredo dele.

Papai tinha seus defeitos, como todo ser humano. Mas, juro, que se tentar me lembrar de um só deles, não consigo. Talvez porque, pra nós, ele tenha sido o melhor, tenha dado o seu melhor. E ele foi o melhor, e sempre vai ser o melhor pai do mundo, independente de como.

Sei que hoje, Papai está cheio de problemas e muito doente, mas acredito que bem no fundo, ele continue sendo esse Pai que eu tanto amo, que nós todos tanto amamos. Acredito que no fundo, ele sabe o quanto o amamos, e o quanto somos loucas por ele. No fundo da alma do Papai, eu tenho certeza de que existe uma marca nossa, assim como na nossa há a marca dele. E sei que não importa onde ele esteja, nós estamos ligados e sempre cuidaremos uns dos outros.

Papai me ensinou a acreditar. E eu acredito. Acredito que ele nunca vá nos deixar de verdade. Acredito que nossa ligação supere barreiras físicas, distância ou morte. Acredito que meu pai, sempre será meu pai e que sempre manterá um olho em nós, que nos guardará e nos protegerá de qualquer mal.

E nós não vamos nos esquecer do que ele fez por nós, de cada lição que nos ensinou com tanto amor e de como se dedicou a nós. Não vamos nos esquecer como ele nos amava, como sorria de um jeito só dele, como nos reconfortava e lutava pela nossa felicidade.

E aqui, novamente, perco as palavras e o rumo do texto. Jamais conseguirei descrever o que meu pai foi, e sempre vai ser para nós. Mas o que acho importante, é que ele sabia o quanto nós o amávamos, e o quanto o amamos e iremos amar sempre. O importante é que papai nos amava, e nos ama também, muito mais do que podemos imaginar.

Podemos ter pedido um pai incrível, mas ganhamos um anjo cheio de amor.

Júlya Silva, 28 de fevereiro de 2011.

janeiro 30, 2011

Deixe-me em paz

Sufocada, eu sucumbia ao inferno que era a realidade. Transtornada, eu procurava apoio em seus braços, mas você não estava aqui.
A verdade é que você nunca esteve aqui, nem mesmo quando minha vida se resumia em você. Nunca. Nem mesmo quando meu mundo girava ao seu redor.
E a verdade é que tudo o que foi feito e dito não atingiu você. E eu era envolvida por nós dois, eu amava por nós dois quando tudo o que você me oferecia era uma mão cheia de mentiras.
Dilacerada, eu chorava o chão, com frio, enquanto seu calor rasgava todos os pedaços vivos do meu corpo.
Deixe-me em paz.
Não quero sofrer. Não gosto. Não vou.
Deixe-me em paz!
Esqueça que um dia precisei de você. Não precisamos de mentiras para construir uma história.
Não preciso das suas mentiras para escrever a minha história. Deixe-me em paz.


J. 09/01/11

janeiro 29, 2011

Interrogação

É inevitável não pensar em todas as questões que segurei até agora. Penso em tudo, me pergunto sobre tudo, duvido de tudo. E muitas vezes, consigo acreditar que foi tudo mentira.
É estranho quando chego à conclusões que me deixam mal. Estranho porque não tento afastá-las, porque fico mergulhando mais e mais, cada vez mais fundo em ácido. Porque fico olhando por vários ângulos atrás de um ponto positivo, mas sei que só estou procurando mais motivos pra me machucar ou para ter certeza de que me machuca.
É estranho também quando encontro conclusões positivas, porque logo as deturpo e elas conseguem ser mais assustadoras e doloridas do que as conclusões ruins. Não que as conclusões positivas sejam muitas.
Acho que me tornei um tipo de aberração: bizarra demais pra ser aceita em qualquer lugar, solitária demais pra se preocupar com isso. É estranho admitir.
Aliás, sinto-me estranha tantas vezes num só dia, que não acho mais tão estranha essa sensação. Acho normal meus altos e baixos, revirar memórias atrás de erros, acho normal essa compulsão por coisas que me machuquem, essa certeza de que não deu certo, acho normal toda essa dor e solidão.
E no fim de tudo, isso é só um jeito de deturpar a realidade, de tentar afastar sonhos bons que deram errado. O meu jeito de deturpar a realidade. Sou um tipo de masoquista, presa a lembranças que não fazem sentido pra mais ninguém. Um tipo de masoquista, presa ao que mais me machuca.

Exclamação

“Amor” tem muitos significados pra mim e, provavelmente, nenhum deles vai ser parecido com o significado que tem pra você. Quando dizem que todas as pessoas são diferentes, estão certas, mas no fundo, todas têm algo em comum. O estranho é que não acho o que tenho em comum com os outros. Com ninguém.
Os significados de “amor” vêm mudando conforme me torno mais madura, e a semelhança que possa existir entre mim e qualquer outro ser no mundo se torna menos provável a cada mudança. Não gosto disso.
Ao menos uma vez queria me sentir igual, ou semelhante de alguma forma. É ruim estar sempre sozinha, revendo e revivendo conceitos que se conhece tão bem a ponto de poder citá-los de olhos fechados. Ao menos uma vez queria que o meu significado de amor fosse aceito, e que acreditassem nele, da forma que acredito.
E é estranho: algumas vezes, há pessoas que dizem acreditar e sentirem-se como eu diante deste sentimento, mas depois de alguns dias – ou meses – meu conceito se torna obsoleto e mutável para eles. E ninguém entende o quão importante isso é.
Queria que entendessem, que vivessem, que sentissem de verdade. Queria fazer parte, fazer sentindo, fazer amor, ser amor. Queria um monte de coisas, nenhuma delas faz sentido pra ninguém além de mim.

janeiro 28, 2011

Teletransporte

Fechei a porta. Os olhos fechados, os músculos retesados, o coração palpitante. O som longe da realidade do vácuo, os pulmões comprimidos, o ar escasso. E só o desejo. Só a dor, só a cor da irrealidade.
Um desejo, uma palavra, um único som rompendo o silêncio e o escuro. E o brilho dos seus olhos se tornando um farol, um guia no meio do medo. E a dor de não estar fazendo certo. E o medo de não chegar no lugar certo.
Apertou, sufocou, comprimiu e esticou. Tudo num segundo só, desconfortável demais, bom demais se desse certo. Um estampido. O ar. E um brilho.
Joelhos falhando, mãos tremendo, o corpo atrás de oxigênio enquanto o peito gritava pela imagem diante de meus olhos.
Caí ajoelhada, e seus braços me sustentaram, evitando o corpo de tombar. E tudo fez sentido, porque todo o esforço tinha valido à pena. Todo o desconforto e toda a dor valeram à pena, porque eu estava ali, nos seus braços, no único lugar do mundo onde poderia me sentir completa.
E eu estava alí, e já não importava o vazio, nem o ar comprimido em meus pulmões. Valia à pena por você. Sempre valerá à pena por você.

janeiro 27, 2011

Frio.

Jamais conseguiria descrever a sensação de estar nos braços dele novamente. Aqueles braços que tanto amava, o calor que sempre lhe fez tão bem.
Não era só o contato físico que a matava de saudades. Morrera sem aquele sorriso, sem o brilho daquele olhar para guiá-la.
E tudo foi frio e cinza enquanto ele estava longe. Mas agora... Agora que podia tocá-lo e abraçá-lo, acabar com o frio e com o medo, descobriu que não eram mais os mesmos, que jamais seriam os mesmos de alguns anos atrás; E o encaixe dos corpos, dos lábios, das almas, jamais seria o mesmo.
Era duro admitir, conformar-se e tentar prosseguir, mas esta havia sido a escolha de ambos (mesmo que inconscientemente) para o futuro: Permanecerem separados e incompletos, mesmo quando sabiam que a felicidade estava à uma frase de distância.
Nunca fora tão prejudicial guardar sentimentos assim. Nunca fora tão duro e triste sem um "eu te amo". E nunca fora tão vazio e frio, nem mesmo quando estavam distantes.
Agora, estavam separados. E assim permaneceriam até alguém quebrar o silêncio e todas as formas erradas de dizer "eu te amo".

janeiro 22, 2011

Sempre fui vulnerável, algo dentro de mim sempre foi quebrável demais. Mas haviam sonhos que me mantinham de pé. E nesses sonhos eu me agarrava, me prendia com toda a força da alma e rezava para que se realizassem antes de eu estar em pedaços.
Por muito tempo, segurar firme nos sonhos foi o suficiente. E por muito tempo eu não me machuquei, nenhum pedacinho meu quebrou, ou trincou, ou enferrujou. Por muito tempo os sonhos valeram à pena.
Hoje, acordei sentindo todos os sonhos vazios, todas as perspectivas vagas e nulas. E então notei que durante muito tempo me mantive segura por pó, porque era a pó que eu me segurava.
Aqueles sonhos que me mantinham inteira não eram meus. E, depois de realizados por quem os criou, eles viravam pó em meus braços. Mas eu estava ocupada demais para perceber que era poeira em meus braços.
Quando abri os olhos hoje, notei que estava sufocada, que o pó tentava me tirar o ar de todas as formas, e que conforme o pó se enroscava em mim, abria espaço para a dor quebrar-me. E lentamente, os frutos de tantos anos cultivando sonhos irreais, chegou a mim.
Quando abri os olhos, senti que seria pela última vez. Quando tentei respirar, tudo o que poderia ser quebrado dentro de mim se espatifou.
Milhões de pedaços meus caindo no chão. Trinta pedaços de verdade espatifados no chão.
Ardeu, doeu e eu gritei. Grito agora enquanto escrevo tocando minhas próprias lágrimas. Grito agora porque sinto que ainda há algo em mim que não é meu. Grito porque não há nada verdadeiro em mim, e porque sei que não haverá. Não enquanto eu não acordar.
Grito porque é difícil demais abrir os olhos me sentindo desprotegida. E não há no que se segurar.



J.

Sem título

Está tudo tão escuro... Ah.
Fazia tempo que eu não chorava assim. Não, isso não é verdade. Eu chorei assim outro dia, mas por outro motivo.
Fazia tempo que eu não me sentia sufocada assim. Essa é a frase que estive procurando. Define perfeitamente o que sinto, e o que toma meu corpo. É uma sensação de topor horrível, falta de oxigênio e fogo, muito fogo em todos os membros do meu corpo. Contraditório.
Não consigo escrever o que quero, nem algo que eu sinta que é bom o suficiente. Isso corrói e piora mais as coisas.
Não gosto de quando perco o controle das coisas. Não gosto quando perco o controle do meu emocional.
Quero um abraço. Só um abraço. Quero minha irmã. Quero minha melhor amiga. Quero acordar e me sentir bem. Quero dançar. Quero correr. Quero gritar. Quero chorar. Chorar.
Chorar. Se eu chorar muito quem sabe isso passe?

janeiro 02, 2011

Reticências

Um circulo. Um ciclo viciante.
Havia algo magnético em cada detalhe daquele rosto que tanto amava. Havia tudo o que procurava.
O sorriso dele me fazia sorrir. Sua tristeza me fazia doente. Seus medos e euforias tornavam-se meus tão facilmente...
Ah! Como chegamos aqui? – A pergunta não pára de ecoar. Repete-se incansavelmente até meus pés perderem o rumo e meus joelhos falharem, deixando-me novamente vulnerável. Vulnerável à única coisa que podia me machucar, ao que eu mais amava e o que era mais perigoso pra mim.
Amar nunca foi um forte meu. Escolher quem poderia me machucar também não. E como lidar com isso? – Essa era a questão.
Talvez, tornar o que sinto uma rotina me faria lidar bem com isso. Mas não há rotina quando é ele.
E cada tremor nas mãos é diferente, quando é com ele. E cada lufada de ar que deixo entrar em meu corpo é diferente, quando estou com ele. E cada detalhe seu é como gravidade, e prende-me no laço inquebrável dos seus mistérios.
E o modo como os gestos e ações dele me manipulavam, me redesenhavam e redefiniam não era normal. Era como se cada célula minha pudesse pertencer somente a ele, e por isso era tão fácil me adaptar ao que quer que ele desejasse, por mais doloroso que fosse.
E essa dor disfarçada diluía cada parte minha numa essência que era puramente dele. E transformava-me em alguém totalmente dele, em cada detalhe. E jogava meus antigos medos no lixo, moldavam-me conforme ele queria.
Prendia-me em seus braços e guiava-me por seu olhar. Perdia-me em seus pensamentos e deliciava-me com cada toque que vinha dele.
E vez ou outra a pergunta incansável e incoerente ecoava: Como chegamos aqui?
Mas torna-se mais fácil manter o controle dos meus pés quando você me segura pela cintura. Torna-se menos difícil manter-me de pé quando estou em seus braços. Menos vulnerável nos braços da única coisa que pode me machucar.
Mais segura nos braços da única pessoa que pode destruir meu mundo.
Menos segura nos braços da única pessoa que mantém meu mundo de pé.



J

janeiro 01, 2011

Ponto

Sentimentos. Emoções. Medos. Perdas.
Escrevo tudo com medo de que sumam da minha mente. Descrevo tudo com uma fúria que não é minha.
Cada aperto em meu peito se torna uma palavra nova, e cada sonho desmanchado me cega enquanto coloco no papel minhas palavras - com medo de não serem as palavras certas. Cada borboleta que se agita em meu âmago se torna uma frase nova, uma forma de enxergar a vida com os olhos da alma.
Sinfonias me trazem até aqui. Gritos me arrastam por aqui. Soluços e lágrimas me afogam em minhas próprias palavras e tudo parece escuro demais. E tudo se clareia quando coloco as palavras - mesmo as erradas - no papel.
Agora estou sentindo um frio na boca do estômago. Uma ardência na garganta e um nó apertado no peito. Onde isso me leva? A que palavras isso me conduz?
Desejo que me conduza a qualquer lugar onde você esteja. Em qualquer mundo em que você me abrace. Em qualquer momento no tempo em que seus lábios estejam próximos do meu rosto.
Desejo que esses sintomas me levem cada vez mais para perto de você. Cada vez mais perto. E mais perto. Até não serem sintomas. Até serem reais. Até você ser real. Até sermos reais. E até estarmos juntos, tornando cada vez mais real tudo o que fazemos e sentimos.
Tudo no papel. Tudo na ponta da caneta desenhando traços que não são verdadeiramente meus.
Tudo no papel. Traços permanentes que descrevem sentimentos que não habitam verdadeiramente meu peito desde que você se foi.
E cada vez mais real... Mais perto. Até estarmos juntos.
E cada vez mais borrado... Menos meu. Até não existirem lembranças.


J.