janeiro 30, 2011

Deixe-me em paz

Sufocada, eu sucumbia ao inferno que era a realidade. Transtornada, eu procurava apoio em seus braços, mas você não estava aqui.
A verdade é que você nunca esteve aqui, nem mesmo quando minha vida se resumia em você. Nunca. Nem mesmo quando meu mundo girava ao seu redor.
E a verdade é que tudo o que foi feito e dito não atingiu você. E eu era envolvida por nós dois, eu amava por nós dois quando tudo o que você me oferecia era uma mão cheia de mentiras.
Dilacerada, eu chorava o chão, com frio, enquanto seu calor rasgava todos os pedaços vivos do meu corpo.
Deixe-me em paz.
Não quero sofrer. Não gosto. Não vou.
Deixe-me em paz!
Esqueça que um dia precisei de você. Não precisamos de mentiras para construir uma história.
Não preciso das suas mentiras para escrever a minha história. Deixe-me em paz.


J. 09/01/11

janeiro 29, 2011

Interrogação

É inevitável não pensar em todas as questões que segurei até agora. Penso em tudo, me pergunto sobre tudo, duvido de tudo. E muitas vezes, consigo acreditar que foi tudo mentira.
É estranho quando chego à conclusões que me deixam mal. Estranho porque não tento afastá-las, porque fico mergulhando mais e mais, cada vez mais fundo em ácido. Porque fico olhando por vários ângulos atrás de um ponto positivo, mas sei que só estou procurando mais motivos pra me machucar ou para ter certeza de que me machuca.
É estranho também quando encontro conclusões positivas, porque logo as deturpo e elas conseguem ser mais assustadoras e doloridas do que as conclusões ruins. Não que as conclusões positivas sejam muitas.
Acho que me tornei um tipo de aberração: bizarra demais pra ser aceita em qualquer lugar, solitária demais pra se preocupar com isso. É estranho admitir.
Aliás, sinto-me estranha tantas vezes num só dia, que não acho mais tão estranha essa sensação. Acho normal meus altos e baixos, revirar memórias atrás de erros, acho normal essa compulsão por coisas que me machuquem, essa certeza de que não deu certo, acho normal toda essa dor e solidão.
E no fim de tudo, isso é só um jeito de deturpar a realidade, de tentar afastar sonhos bons que deram errado. O meu jeito de deturpar a realidade. Sou um tipo de masoquista, presa a lembranças que não fazem sentido pra mais ninguém. Um tipo de masoquista, presa ao que mais me machuca.

Exclamação

“Amor” tem muitos significados pra mim e, provavelmente, nenhum deles vai ser parecido com o significado que tem pra você. Quando dizem que todas as pessoas são diferentes, estão certas, mas no fundo, todas têm algo em comum. O estranho é que não acho o que tenho em comum com os outros. Com ninguém.
Os significados de “amor” vêm mudando conforme me torno mais madura, e a semelhança que possa existir entre mim e qualquer outro ser no mundo se torna menos provável a cada mudança. Não gosto disso.
Ao menos uma vez queria me sentir igual, ou semelhante de alguma forma. É ruim estar sempre sozinha, revendo e revivendo conceitos que se conhece tão bem a ponto de poder citá-los de olhos fechados. Ao menos uma vez queria que o meu significado de amor fosse aceito, e que acreditassem nele, da forma que acredito.
E é estranho: algumas vezes, há pessoas que dizem acreditar e sentirem-se como eu diante deste sentimento, mas depois de alguns dias – ou meses – meu conceito se torna obsoleto e mutável para eles. E ninguém entende o quão importante isso é.
Queria que entendessem, que vivessem, que sentissem de verdade. Queria fazer parte, fazer sentindo, fazer amor, ser amor. Queria um monte de coisas, nenhuma delas faz sentido pra ninguém além de mim.

janeiro 28, 2011

Teletransporte

Fechei a porta. Os olhos fechados, os músculos retesados, o coração palpitante. O som longe da realidade do vácuo, os pulmões comprimidos, o ar escasso. E só o desejo. Só a dor, só a cor da irrealidade.
Um desejo, uma palavra, um único som rompendo o silêncio e o escuro. E o brilho dos seus olhos se tornando um farol, um guia no meio do medo. E a dor de não estar fazendo certo. E o medo de não chegar no lugar certo.
Apertou, sufocou, comprimiu e esticou. Tudo num segundo só, desconfortável demais, bom demais se desse certo. Um estampido. O ar. E um brilho.
Joelhos falhando, mãos tremendo, o corpo atrás de oxigênio enquanto o peito gritava pela imagem diante de meus olhos.
Caí ajoelhada, e seus braços me sustentaram, evitando o corpo de tombar. E tudo fez sentido, porque todo o esforço tinha valido à pena. Todo o desconforto e toda a dor valeram à pena, porque eu estava ali, nos seus braços, no único lugar do mundo onde poderia me sentir completa.
E eu estava alí, e já não importava o vazio, nem o ar comprimido em meus pulmões. Valia à pena por você. Sempre valerá à pena por você.

janeiro 27, 2011

Frio.

Jamais conseguiria descrever a sensação de estar nos braços dele novamente. Aqueles braços que tanto amava, o calor que sempre lhe fez tão bem.
Não era só o contato físico que a matava de saudades. Morrera sem aquele sorriso, sem o brilho daquele olhar para guiá-la.
E tudo foi frio e cinza enquanto ele estava longe. Mas agora... Agora que podia tocá-lo e abraçá-lo, acabar com o frio e com o medo, descobriu que não eram mais os mesmos, que jamais seriam os mesmos de alguns anos atrás; E o encaixe dos corpos, dos lábios, das almas, jamais seria o mesmo.
Era duro admitir, conformar-se e tentar prosseguir, mas esta havia sido a escolha de ambos (mesmo que inconscientemente) para o futuro: Permanecerem separados e incompletos, mesmo quando sabiam que a felicidade estava à uma frase de distância.
Nunca fora tão prejudicial guardar sentimentos assim. Nunca fora tão duro e triste sem um "eu te amo". E nunca fora tão vazio e frio, nem mesmo quando estavam distantes.
Agora, estavam separados. E assim permaneceriam até alguém quebrar o silêncio e todas as formas erradas de dizer "eu te amo".

janeiro 22, 2011

Sempre fui vulnerável, algo dentro de mim sempre foi quebrável demais. Mas haviam sonhos que me mantinham de pé. E nesses sonhos eu me agarrava, me prendia com toda a força da alma e rezava para que se realizassem antes de eu estar em pedaços.
Por muito tempo, segurar firme nos sonhos foi o suficiente. E por muito tempo eu não me machuquei, nenhum pedacinho meu quebrou, ou trincou, ou enferrujou. Por muito tempo os sonhos valeram à pena.
Hoje, acordei sentindo todos os sonhos vazios, todas as perspectivas vagas e nulas. E então notei que durante muito tempo me mantive segura por pó, porque era a pó que eu me segurava.
Aqueles sonhos que me mantinham inteira não eram meus. E, depois de realizados por quem os criou, eles viravam pó em meus braços. Mas eu estava ocupada demais para perceber que era poeira em meus braços.
Quando abri os olhos hoje, notei que estava sufocada, que o pó tentava me tirar o ar de todas as formas, e que conforme o pó se enroscava em mim, abria espaço para a dor quebrar-me. E lentamente, os frutos de tantos anos cultivando sonhos irreais, chegou a mim.
Quando abri os olhos, senti que seria pela última vez. Quando tentei respirar, tudo o que poderia ser quebrado dentro de mim se espatifou.
Milhões de pedaços meus caindo no chão. Trinta pedaços de verdade espatifados no chão.
Ardeu, doeu e eu gritei. Grito agora enquanto escrevo tocando minhas próprias lágrimas. Grito agora porque sinto que ainda há algo em mim que não é meu. Grito porque não há nada verdadeiro em mim, e porque sei que não haverá. Não enquanto eu não acordar.
Grito porque é difícil demais abrir os olhos me sentindo desprotegida. E não há no que se segurar.



J.

Sem título

Está tudo tão escuro... Ah.
Fazia tempo que eu não chorava assim. Não, isso não é verdade. Eu chorei assim outro dia, mas por outro motivo.
Fazia tempo que eu não me sentia sufocada assim. Essa é a frase que estive procurando. Define perfeitamente o que sinto, e o que toma meu corpo. É uma sensação de topor horrível, falta de oxigênio e fogo, muito fogo em todos os membros do meu corpo. Contraditório.
Não consigo escrever o que quero, nem algo que eu sinta que é bom o suficiente. Isso corrói e piora mais as coisas.
Não gosto de quando perco o controle das coisas. Não gosto quando perco o controle do meu emocional.
Quero um abraço. Só um abraço. Quero minha irmã. Quero minha melhor amiga. Quero acordar e me sentir bem. Quero dançar. Quero correr. Quero gritar. Quero chorar. Chorar.
Chorar. Se eu chorar muito quem sabe isso passe?

janeiro 02, 2011

Reticências

Um circulo. Um ciclo viciante.
Havia algo magnético em cada detalhe daquele rosto que tanto amava. Havia tudo o que procurava.
O sorriso dele me fazia sorrir. Sua tristeza me fazia doente. Seus medos e euforias tornavam-se meus tão facilmente...
Ah! Como chegamos aqui? – A pergunta não pára de ecoar. Repete-se incansavelmente até meus pés perderem o rumo e meus joelhos falharem, deixando-me novamente vulnerável. Vulnerável à única coisa que podia me machucar, ao que eu mais amava e o que era mais perigoso pra mim.
Amar nunca foi um forte meu. Escolher quem poderia me machucar também não. E como lidar com isso? – Essa era a questão.
Talvez, tornar o que sinto uma rotina me faria lidar bem com isso. Mas não há rotina quando é ele.
E cada tremor nas mãos é diferente, quando é com ele. E cada lufada de ar que deixo entrar em meu corpo é diferente, quando estou com ele. E cada detalhe seu é como gravidade, e prende-me no laço inquebrável dos seus mistérios.
E o modo como os gestos e ações dele me manipulavam, me redesenhavam e redefiniam não era normal. Era como se cada célula minha pudesse pertencer somente a ele, e por isso era tão fácil me adaptar ao que quer que ele desejasse, por mais doloroso que fosse.
E essa dor disfarçada diluía cada parte minha numa essência que era puramente dele. E transformava-me em alguém totalmente dele, em cada detalhe. E jogava meus antigos medos no lixo, moldavam-me conforme ele queria.
Prendia-me em seus braços e guiava-me por seu olhar. Perdia-me em seus pensamentos e deliciava-me com cada toque que vinha dele.
E vez ou outra a pergunta incansável e incoerente ecoava: Como chegamos aqui?
Mas torna-se mais fácil manter o controle dos meus pés quando você me segura pela cintura. Torna-se menos difícil manter-me de pé quando estou em seus braços. Menos vulnerável nos braços da única coisa que pode me machucar.
Mais segura nos braços da única pessoa que pode destruir meu mundo.
Menos segura nos braços da única pessoa que mantém meu mundo de pé.



J

janeiro 01, 2011

Ponto

Sentimentos. Emoções. Medos. Perdas.
Escrevo tudo com medo de que sumam da minha mente. Descrevo tudo com uma fúria que não é minha.
Cada aperto em meu peito se torna uma palavra nova, e cada sonho desmanchado me cega enquanto coloco no papel minhas palavras - com medo de não serem as palavras certas. Cada borboleta que se agita em meu âmago se torna uma frase nova, uma forma de enxergar a vida com os olhos da alma.
Sinfonias me trazem até aqui. Gritos me arrastam por aqui. Soluços e lágrimas me afogam em minhas próprias palavras e tudo parece escuro demais. E tudo se clareia quando coloco as palavras - mesmo as erradas - no papel.
Agora estou sentindo um frio na boca do estômago. Uma ardência na garganta e um nó apertado no peito. Onde isso me leva? A que palavras isso me conduz?
Desejo que me conduza a qualquer lugar onde você esteja. Em qualquer mundo em que você me abrace. Em qualquer momento no tempo em que seus lábios estejam próximos do meu rosto.
Desejo que esses sintomas me levem cada vez mais para perto de você. Cada vez mais perto. E mais perto. Até não serem sintomas. Até serem reais. Até você ser real. Até sermos reais. E até estarmos juntos, tornando cada vez mais real tudo o que fazemos e sentimos.
Tudo no papel. Tudo na ponta da caneta desenhando traços que não são verdadeiramente meus.
Tudo no papel. Traços permanentes que descrevem sentimentos que não habitam verdadeiramente meu peito desde que você se foi.
E cada vez mais real... Mais perto. Até estarmos juntos.
E cada vez mais borrado... Menos meu. Até não existirem lembranças.


J.