fevereiro 07, 2012

Adios

Estava sentado preguiçosamente numa poltrona. A única luz na sala vinha do abajur, amarelada, pálida, fria. Ele segurava uma taça de vinho na mão direita. Vez ou outra levava-a aos lábios e saboreava o líquido vermelho. Seus olhos não tinham foco. E dali, daquela sala, daquela poltrona, ele podia ouvi-la no quarto.
Ouvia-a dançando no quarto. Ouvia os dois fazendo amor no quarto. Ouvia ela chorando no quarto. Ouvia ela fazendo as malas no quarto.
Levou o vinho aos lábios mais uma vez, fazendo um brinde com o vento - um brinde com o azar. Sorriu para o nada, não havia mais nada além de vazio nele e no quarto.
A porta da sala fechou-se com um estrondo oco. A casa agora estava vazia. Ele pode ouvi-la arrastar as quatro malas pelas escadas. Perguntava-se se devia te-la ajudado e sua consciência respondia que não. Sua consciência respondia que ela não pensara nele quando decidira ir embora.
Ela jamais pensara nele.
Serviu-se de mais vinho. O perfume dela ainda pairava no ar. O peito encheu-se de uma agonia torturante e as lágrimas vieram. A garrafa de vinho voou de sua mão até a parede mais próxima, jorrando sangue na tinta branca, manchando para sempre o coração do homem, os cacos machucando, perfurando, matando.
Ele apagou o abajur. Caminhou trôpego até o quarto. O perfume dela como veneno no ar. Os cabides como provas dolorosas de que ela havia partido, testemunhas cruéis de um crime que o mataria.
Deitou-se na cama, abraçou-se ao travesseiro da mulher, perguntando-se como conseguiria viver sem as mentiras e os risos dela, iluminando-o, fazendo-o perder-se e prender-se a ela. Absorveu tudo dela que ainda havia na cama, o cheiro, alguns fios de cabelos presos à fronha, as lembranças das noites de amor na cama.
E dormiu enlaçado às memórias dela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário