julho 29, 2012

Apologize.



                “Algumas vezes, a coisa mais difícil é a mais certa”. Ouvira isso em algum lugar, em alguma música sussurrada, com algum sorriso roubado e vinho tinto para acompanhar. Porque apenas o toque suave da voz grave em sua pele era suficiente para tornar até a pior frase a melhor das maravilhas. 
                Sentada no chão frio do banheiro, ela agora revia os acontecimentos anteriores. Revia os beijos, os abraços. Lamentava-se por cada uma das palavras que sussurrara e por ter sido fraca ao não conseguir dizer não.
                Desde o começo, não devia ter começado com aquela história. Porque, no fundo, sabia como aconteceria. “Algumas vezes, a coisa mais difícil é a mais certa”...
                Tudo o que tinha era sua família, os braços aconchegantes da mãe, os sorrisos roubados, os doces compartilhados, o olhar travesso da irmã, os segredos abafados, as noites viradas em claro. E havia também toda aquela magia que só existia quando referia-se a elas. Era difícil aceitar...
                Ali, sentada com a garrafa de vinho barato e com olheiras, a cabeça latejando pela dor e o estômago revirando com o pesar, ela teve ainda mais certeza disso. O laço que as unia era único. E restringia-se às três. Era delas. E elas eram suas.
                Mais um gole no vinho nojento. Mais uma lágrima que insistia em cair enquanto a lembrança voltava. Era uma escolha difícil. Como era...
                “Querido Amor,
                               Sinto muito.”
                Foi o que teve coragem de rabiscar dessa vez. Nenhuma palavra a mais, nenhuma palavra a menos. Porque já não havia o que dizer. Já não podia mais dizer.
                Colocar sentimentos em palavras pode ser perigoso. E ela sentia-se frágil demais para correr mais um risco.
                Deixou o corpo deitar no azulejo frio e fechou os olhos. E no sonho, nada daquilo jamais havia existido. Sem dor, sem culpa, sem nada para separá-los ou não. Nenhuma prioridade.
                Nada. Paz. 

julho 19, 2012

Carta Aberta


                Imagino que esteja magoado comigo por eu ter dito que lhe odeio. E imagino também que saiba que não é verdade. Sei que em algum lugar aí dentro você tem certeza de que o único sentimento que sou capaz de nutrir por você é amor – aquele amor que vai no fundo da alma e faz a insegurança ir embora; o tipo de amor que vence todos os medos e te torna parte de mim, uma parte enorme de mim.
                A questão é que odeio a forma como me deixa vulnerável, a forma como, ao me dar mais seguranla, me torna insegura. Odeio a forma que meu coração salta, quase como se desejasse sair pela boca, sempre que ouço seu nome.
                Ah... Eu odeio como você faz eu me sentir especial, como me dá asas pra ir alto, ir além do que eu mesma imagino. Odeio sentir ciúmes de você. Odeio qualquer uma que possa estar contigo, quando eu não puder.
                No fundo, sei que todo esse “eu odeio” não é nada além de um “eu te amo’ sufocado, desesperado, engolido às pressas. E por esse meu medo e pela minha falta de palavras perto de você, eu sinceramente peço desculpas.
                E peço também que não se esqueça que, independente do que gritem minhas palavras, o sentimento não muda: Eu amo você.  

julho 17, 2012

Buenos dias.


                Ela acordou. E tudo parecia pior do que no sonho que tivera durante a noite. Gritou um “bom dia” amigo para as paredes que fingiram não ouvir nem se preocupar com o sofrimento que estava estampado em seus olhos.
                Levantou-se da cama, esticou o cobertor, olhou-se no espelho e a figura que viu parecia dez anos mais velha: um ser estranho, obrigado a crescer da noite para o dia, deformado, cheio de dúvidas e de medos. E o pior, encontrou esse ser refletido sozinho e com um fardo  pesado demais para carregar. 
                O medo tomou conta de seu corpo, esfriando o estômago, dando um nó em sua garganta e em seus pensamentos. Ela perguntou-se quem era. E perguntou-se também como havia chegado ali, revisou os caminhos, os atalhos e a dúvida surgiu. Deus, estaria ela fazendo tudo certo? Quem garantia que um dos  caminhos não fora o errado e que seu objetivo fora sempre certo?
                Olhando-se no espelho frio, ela notou que estava certa sim. Mas definitivamente errada. Assustada. Não, apavorada. Estava mais velha, mas mais incerta que uma criança pequena no meio de uma multidão. Estava menos vulnerável. Ou seria o contrário?
                A questão é que as paredes continuavam a ignorando. Em cada passo, em cada atividade que fazia. Soltou o cabelo bagunçado e tentou tornar-se mais apresentável para a vida que lhe esperava. Mas até esse gesto pareceu mecânico. E quando seus lábios se separaram para o café da manhã, ela sentiu como se fossem espinhos descendo e rasgando sua garganta.
                E o chão tornou-se rubro. As lágrimas também. E todo o medo ao redor do corpo pequeno. Era tudo vermelhidão enquanto ela vomitava a seco, tentando consertar as coisas erradas e juntar os pedacinhos de um cristal que havia se partido há muito tempo. 

julho 09, 2012

Intimidade

ㅤㅤEm momento algum acreditara que aquilo fosse amor. De forma alguma. Amor por ele? Por todas as pessoas do mundo, menos por ele.
ㅤㅤEra assim que pensara a situação. Desde o princípio. Era tudo, menos amor. E quando diziam-lhe que estava apaixonada, negava veementemente. E quando surpreendia-se pensando nele, tratava logo de mudar o rumo, distrair-se e agarrar-se a algo firme.
ㅤㅤPorque desde o princípio soubera que ele era inconstância. Não havia estabilidade quando tratava-se dele.
ㅤㅤE ela jamais poderia amar alguém assim.
ㅤㅤAté ouvir "sexo é amor".
ㅤㅤJamais havia pensado em alguém da forma que pensava nele. Nem desejado alguém como o desejava. Ninguém arrancara-lhe arrepios com tanta facilidade.
ㅤㅤE em seus dezoito anos, jamais havia sentido tanta vontade de entregar-se a alguém como a ele. Era quase uma necessidade: corroía, corrompia.
ㅤㅤEra natural que os beijos de ambos conduzissem para a união dos corpos. As mãos espalmadas nas costas dele viajavam sem receios pela pele macia, conhecendo e reconhecendo seus traços.
ㅤㅤOs lábios perdiam-se, procuravam chegar a parte inexploradas anteriormente. E alcançavam. Pediam-se na pele, nas curvas. Pendiam e perdiam-se entre vales e montanhas, no relevo dos corpos.
ㅤㅤOs lábios encontravam-se. Selavam o pacto que os unia. E perdiam-se novamente só para encontrarem-se mais uma vez. E outra, e mais outra.
ㅤㅤE eram um. Era amor e só assim ela compreendeu: mais do que corações que haviam se escolhido ou não se escolhido, eles eram corpos. Corpos que dividiam a mesma sintonia e um mesmo desejo. Eram corpos que haviam se escolhido.

julho 03, 2012

Querido Amor,

Fazia algum tempo que eu não me sentia assim. Na verdade, o medo de me sentir assim novamente era enorme. E, sinceramente, ainda me assusto com as borboletas no estômago quando você aponta no meu campo de visão; ainda não me acostumei com as mãos geladas só de pensar em você ou no sorriso bobo que brota nos lábios quando alguém diz seu nome.
Acho que é tudo muito surreal ainda para que eu consiga acreditar. Mas isso não significa que não sinto - pelo contrário: eu sinto! E sinto nos ossos. Sinto com o coração na garganta quando você está perto. Sinto com o medo de falar algo errado ou bobo perto de você. Sinto com os suspiros que me causa, com os arrepios que me arranca. E cada segundo contigo tem sido maravilhoso. Porque você, sinceramente, me faz querer acreditar de novo. Você faz com que eu queira ser melhor: melhor por você e melhor pra você. Você faz eu querer sentir Amor. Ser Amor. Mesmo com o medo que as vezes parece me tirar o foco. 
Sim, o medo continua aqui, escurecendo, apavorando. Mas quando estou nos seus braços ou quando é a sua lembrança que está na minha memória, o medo é pequeno demais. A sua luz, o seu sorriso, faz tudo valer à pena e afasta toda a minha insegurança. Medo nenhum, insegurança nenhuma é capaz de afastar o sentimento que irradia do meu peito quando o assunto é você. 
Você é Esperança. Minha Esperança. Querido Amor, você faz eu me sentir viva quando eu já não acreditava ser possível. E sinto muito se sou sucinta vez ou outra. Sinto muito por, às vezes, não conseguir retribuir tudo o que você faz por mim. Mas não é por mal, me entenda: Quaisquer que sejam minhas ações perto de você, elas são poucas. Poucas e pequenas diante do quanto você me faz acreditar. E por mais que eu fale, minhas palavras parecem vãs, frias e pequenas porque é tanto calor que invade meu peito quando sinto você perto de mim... Sufoca-me. 
Amor, não me leva a mal por não conseguir dizer isso em voz alta. Só queria que, de alguma forma, você soubesse o quanto te quero - mais do que isso: o quanto te preciso. E as palavras podem ser esquecidas, levadas com o vento. Mas aqui, no papel e dentro de mim, está gravado. Cada letra, cada suspiro, cada sorriso e cada beijo. Cada olhar seu. 
E, Querido, que não acabe. Que seja nosso esse sentimento. E que seja grande o suficiente para continuar vencendo meus medos. Obrigada por me fazer acreditar novamente.