julho 29, 2012

Apologize.



                “Algumas vezes, a coisa mais difícil é a mais certa”. Ouvira isso em algum lugar, em alguma música sussurrada, com algum sorriso roubado e vinho tinto para acompanhar. Porque apenas o toque suave da voz grave em sua pele era suficiente para tornar até a pior frase a melhor das maravilhas. 
                Sentada no chão frio do banheiro, ela agora revia os acontecimentos anteriores. Revia os beijos, os abraços. Lamentava-se por cada uma das palavras que sussurrara e por ter sido fraca ao não conseguir dizer não.
                Desde o começo, não devia ter começado com aquela história. Porque, no fundo, sabia como aconteceria. “Algumas vezes, a coisa mais difícil é a mais certa”...
                Tudo o que tinha era sua família, os braços aconchegantes da mãe, os sorrisos roubados, os doces compartilhados, o olhar travesso da irmã, os segredos abafados, as noites viradas em claro. E havia também toda aquela magia que só existia quando referia-se a elas. Era difícil aceitar...
                Ali, sentada com a garrafa de vinho barato e com olheiras, a cabeça latejando pela dor e o estômago revirando com o pesar, ela teve ainda mais certeza disso. O laço que as unia era único. E restringia-se às três. Era delas. E elas eram suas.
                Mais um gole no vinho nojento. Mais uma lágrima que insistia em cair enquanto a lembrança voltava. Era uma escolha difícil. Como era...
                “Querido Amor,
                               Sinto muito.”
                Foi o que teve coragem de rabiscar dessa vez. Nenhuma palavra a mais, nenhuma palavra a menos. Porque já não havia o que dizer. Já não podia mais dizer.
                Colocar sentimentos em palavras pode ser perigoso. E ela sentia-se frágil demais para correr mais um risco.
                Deixou o corpo deitar no azulejo frio e fechou os olhos. E no sonho, nada daquilo jamais havia existido. Sem dor, sem culpa, sem nada para separá-los ou não. Nenhuma prioridade.
                Nada. Paz. 

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