agosto 15, 2012

Anjinha


            - Você acredita mesmo que... – A frase foi interrompida por um sorriso cálido da irmã mais velha. Deslizou os dedos machucados pelos fantasmas no rosto de criança e assentiu, umedecendo os lábios e erguendo o olhar em busca de algo.
            - E você não? – A maior sussurrou, apertando as mãozinhas pequenas nas suas.
            A criança mostrou-lhe um sorriso lindo e a gargalhada gostosa ecoou pelo quarto, envolvendo-as. Unindo-as, levando embora a tristeza que parecia pairar no quarto. Por um momento, a pequena pareceu pensar, raciocinar.
            - É que nós não vemos muitos anjos por aí... Você sabe. – Ela riu, de forma sapeca. E a irmã mais velha teve de conter-se para não apertá-la num abraço que iria sufoca-la por alguns segundos.
            - É só porque não conseguimos enxergar. Basta só um pouquinho de atenção, quer ver?
            - E você pode me mostrar?
            - Respire fundo e venha comigo nessa – Sussurrou, aninhando a pequena em seu colo e afagando-lhe o rostinho de boneca. – Você sabe aqueles momentos em que nós estamos tristinhas?
            A menina assentiu, sem nem se preocupar em dar um tempo de pausa para a irmã, que riu antes de prosseguir: - Certo, você sabe... Hm. Nesses momentos, existem pessoas que, só de nos olhar nos olhos, conseguem saber o que estamos sentindo. E é mágico como elas conseguem nos animar, pequena... Você já percebeu isso?
            Novamente, a expressão pensativa tomou o rostinho da criança, aninhada no colo da irmã mais velha. Ela mordiscou um dos lábios finos e assentiu em seguida, erguendo as orbes douradas e sorrindo para a maior apenas com o olhar.
            - Você é uma dessas pessoas. Não é? Você sabe fazer mágica.
            E a irmã mais velha riu, enchendo a barriguinha da menor de cócegas, fazendo-a rir. Fagulhas de esperança encherem o cômodo e o ar. Tudo se fez mais claro com o riso sincero e doce. A maior meneou a cabeça e abraçou-a carinhosamente.
            - Talvez eu seja. – Sussurrou, como um segredo. – Mas o ponto que quero chegar, Pipoquinha, é este: essas pessoas, essas pessoinhas que nos fazem felizes quando parece impossível, esses são nossos anjos. Anjos aqui, na Terra. E bem do nosso lado – O tom de segredo continuava, o sussurro enchendo o quarto, a esperança parecendo crescer na expressão da menor e no quarto fétido.
            - Farinha de Trigo... Eu acredito. – Sussurrou, o segredo também presente na voz fina e doce. – Eu acredito – Repetiu, apertando a irmã e assentindo fervorosamente.
            A maior depositou um beijo na testa da irmãzinha e assentiu, deslizando a pontinha do nariz na dela. Depois de suspirar e sentir o ar mais leve no quarto que antes abrigara a morte, ela umedeceu os lábios novamente e criou coragem para sussurrar: - Que bom que você acredita... Você é o meu anjo. – Confessou, prendendo-se à pequena.
            E juntas, todas as feridas elas curaram.