– Aproximem-se, senhoras e senhores! Tapem os olhos das
crianças e preparem-se! – Os tambores rufaram, saudando a bela morena que
adentrava o palco improvisado. – Clamem por ela! Ofereçam-se para morrer em seu
nome!
Ela estava coberta em vermelho, o corpo dourado escondido
por um véu. Apenas os olhos muito negros, marcados pelo lápis escuro eram
visíveis para os espectadores. Havia uma luz que vinha de trás, e pelo véu
quase transparente era possível ver o contorno do corpo perfeito.
– Oh, deusa minha! Piedade, piedade de meu coração! – Foi
a súplica que ouviram pouco antes da música aumentar. O homem que fez o pedido
ajoelhou-se diante da cigana, que tremulou o quadril em resposta.
Instantaneamente, ao som da música e do vento, a mulher
passou a dançar, o véu descendo pelo corpo, deixando as curvas perigosas à
mostra. No ritmo ditado pelos instrumentos de percussão o corpo da morena
deslizou pelo ar, cortando-o de forma delicada. E os lábios carnudos nunca
deixavam de sorrir para sua plateia.
Os acessórios de ouro que a cigana usava, adornando-lhe o
rosto e os pulsos faziam sua própria sintonia, parecendo guia-la na sinfonia
que era sua dança. Os braços esguios da mulher ergueram-se no ar, soltando o
véu. O tecido caiu acariciando a pele da cigana, que rodopiou uma vez e, quando
parou, encarou seu povo.
Eram óbvios os olhares de cobiça sobre seu corpo. E era
óbvio a forma como estes pareciam alimentá-la. A cigana terminou seu show
ajoelhada no chão, o tronco arqueado para trás, o enorme cabelo negro
arrastando no palco. O peito inflava a cada expiração da morena, que
levantou-se em seguida, recebendo os aplausos com o sorriso mais sedutor do
mundo.
A forma como ela curvou-se, agradecendo à plateia foi
digna de uma rainha. Enquanto isso, o homenzinho que a anunciara mais cedo
recolheu o dinheiro que foi jogado para a deusa, que logo sumiu de minha vista.
E só então senti que a bruxa havia levado muito mais do
que minha admiração. Dentro de mim, uma parte do coração faltava.
Cigana... Devolva o que roubou de mim! Sussurrei ao
vento. Ainda era possível sentir o fogo que emanava do corpo dela. E a visão de
sua dança não saía de meus olhos.
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