outubro 05, 2012

Cigana


            – Aproximem-se, senhoras e senhores! Tapem os olhos das crianças e preparem-se! – Os tambores rufaram, saudando a bela morena que adentrava o palco improvisado. – Clamem por ela! Ofereçam-se para morrer em seu nome!
            Ela estava coberta em vermelho, o corpo dourado escondido por um véu. Apenas os olhos muito negros, marcados pelo lápis escuro eram visíveis para os espectadores. Havia uma luz que vinha de trás, e pelo véu quase transparente era possível ver o contorno do corpo perfeito.
            – Oh, deusa minha! Piedade, piedade de meu coração! – Foi a súplica que ouviram pouco antes da música aumentar. O homem que fez o pedido ajoelhou-se diante da cigana, que tremulou o quadril em resposta.
            Instantaneamente, ao som da música e do vento, a mulher passou a dançar, o véu descendo pelo corpo, deixando as curvas perigosas à mostra. No ritmo ditado pelos instrumentos de percussão o corpo da morena deslizou pelo ar, cortando-o de forma delicada. E os lábios carnudos nunca deixavam de sorrir para sua plateia.
            Os acessórios de ouro que a cigana usava, adornando-lhe o rosto e os pulsos faziam sua própria sintonia, parecendo guia-la na sinfonia que era sua dança. Os braços esguios da mulher ergueram-se no ar, soltando o véu. O tecido caiu acariciando a pele da cigana, que rodopiou uma vez e, quando parou, encarou seu povo.
            Eram óbvios os olhares de cobiça sobre seu corpo. E era óbvio a forma como estes pareciam alimentá-la. A cigana terminou seu show ajoelhada no chão, o tronco arqueado para trás, o enorme cabelo negro arrastando no palco. O peito inflava a cada expiração da morena, que levantou-se em seguida, recebendo os aplausos com o sorriso mais sedutor do mundo.
            A forma como ela curvou-se, agradecendo à plateia foi digna de uma rainha. Enquanto isso, o homenzinho que a anunciara mais cedo recolheu o dinheiro que foi jogado para a deusa, que logo sumiu de minha vista.
            E só então senti que a bruxa havia levado muito mais do que minha admiração. Dentro de mim, uma parte do coração faltava.
            Cigana... Devolva o que roubou de mim! Sussurrei ao vento. Ainda era possível sentir o fogo que emanava do corpo dela. E a visão de sua dança não saía de meus olhos. 

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