janeiro 20, 2013

Acreditar


            Chegou com as chuvas de verão, trazendo consigo uma carta de amor e alguns botões de rosa para impressionar. Tinha nos olhos a bandeira da esperança, calor nos lábios e cabelos enrolados de sonhos, que voavam, enfrentavam o vento com rebeldia, invencíveis no negrume dos fios. Os pés tinham asas, ignoravam obstáculos e “nãos”. Ela tinha o nariz empinado, pronto para esnobar caras feias e a maldade do mundo. Com o mundo nas palmas das mãos, a menina parecia pronta para fazer a diferença e transformar o mais escuro dos corações em um campo florido.
            Tinha mil dentes na boca, de tanto que sorria. Espalhava seu riso pelo Planeta Azul a cada novo passo. E deixava em seu rastro flores frescas e doces de sinceridade. Para essa doce menina, a atmosfera cheirava a brigadeiro e as nuvens tinham gosto de algodão doce. Ou sorvete! Ou os dois juntos! Enxergava uma nova chance a cada esquina, uma nova oportunidade de ser melhor a cada passo. Para ela, cada esbarrão era a chance de um novo sorriso, mesmo que apologético. Ela tinha a estranha necessidade de compartilhar sorrisos com quem cruzasse seu caminho. Acreditava que uma segunda chance não era tão cara assim, e que sonhos divididos podiam ser muito maiores e mais bonitos.
            Sim, ela sonhava acordada. Não acreditava que sonhos aconteciam só na nossa mente. Para ela, até mesmo as mentirinhas que contamos eram sonhos fantasiados. Não que não visse maldade, mas sempre procurava ver primeiro o que havia de bom. Afinal, defeitos, todos sabem apontar. Ela gostava de qualidades, da vontade de ser melhor e da autenticidade que cada um, no fundo, tem.
            Ela era juventude, viva mesmo com o passar dos anos. Na verdade, quanto mais os anos passavam, mais jovem ela era. Ela renascia com o sol, todos os dias; e ainda sabia degustar a Lua pela noite. Desabrochava como flor no coração de uma nova pessoa sempre que havia o desejo de lutar por algo melhor. Ela era fé, correndo atrás de seus sonhos e acreditando, mesmo quando parecia ser impossível. Ela era inocência, perseguia borboletas e desejava - quem sabe um dia - voar como elas. Acreditava em fadas, em anjos e em gnomos (qual criança nunca acreditou?).
            Não julgue a pequena menina. Deixe que, por hoje, ela também habite o seu coração. Dance junto com ela ao redor de uma fogueira, cultuando o calor gostoso do fogo ou corra com ela através de colinas, em busca das flores mais bonitas para enfeitar a sua vida. Entregue-se a ela, por um momento, e volte a acreditar que o melhor lugar do mundo ainda é colo de mãe. Deixe que ela te guie por essas ruas turbulentas, em meio à sujeira da raça humana, mostrando-lhe que sim!, sim, ainda há motivos para acreditar, para fazer do nossos mundo um lugar melhor. Conceda-lhe um sorriso, uma dança. Não deixe de acreditar nessa pequena menina com olhos de esperança.

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