Ainda não havia descoberto o que
estava errado. Ela não costumava deixar-se levar por Chris Martin, não sempre.
Na maioria das vezes, ela apenas deleitava-se com a voz perfeita. E quando tudo
estava errado, era a voz dele que usava para forçar as lágrimas. Ainda era
cedo, nem oito da noite. O céu ainda estava claro, ela não gostava de cometer
crimes sob a luz do sol. Mas naquela noite, as coisas eram diferentes...
Aliás, enquanto estava sentada na
escrivaninha que não era sua, ela olhou para trás e notou que o dia havia
começado diferente desde o começo. O sol demorara para nascer. E agora, ele
demorava para partir. Era tarde para sofrer. Ainda era muito cedo para sofrer. Com
a garganta inchada num nó, ligou o stereo bem baixinho. Deitou-se na mesa e
deixou-se envolver pela melancolia da voz do homem. Chris Martin... O maldito
Chris Martin, sempre fazendo-a chorar quando precisava. Havia esperado tanto
por ele...
Deslizou os joelhos para junto do
corpo, encolhendo-se numa bola. Ela recolheu-se em seus pensamentos e na
própria dor que não conseguia saber de onde vinha. Com olhos fechados e sussurrando
a canção junto a Chris, ela permitiu-se chorar, devastar-se pela solidão que
parecia implacável nos últimos dias. Era só um vazio enorme. “É só um vazio
enorme, menina”, repetia para si mesma enquanto deslizava pelo veludo que era a
voz de Chris.
Era saudade, solidão, era medo e
angústia. Era a preguiça de terminar aquele trabalho e o desespero por não
conseguir terminar. Era a filha que crescia rápido demais, a mãe que
esquecia-se das coisas. Era a dor nas costas que não passava e aquele nó na
garganta que não diminuía. Ela precisava de alguém que entendesse, que pudesse
lhe dizer o que fazer ou como reagir. Precisava tanto... E nem sabia de quê.
Acabou secando as lágrimas alguns minutos
depois, os olhos mais leves, os ouvidos também. Mas o coração continuava
pesado, cheio de bagagens que não pareciam dela. A alma continuava em busca de
algo que a música de Chris Martin não podia lhe dar. Sem coragem para desligar
o som, ela adormeceu sob o bonito anoitecer na cidade, embalada pelas palavras
proféticas do homem, que começaram a soar na hora certa. “Seu coração pesado é
feito de pedra, e é muito difícil vê-lo claramente. Você não precisa ficar sozinha”.
“You don't have to be on
your own”.
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