junho 28, 2013

Esperança

Com um suspiro, reconheceu o sentimento. Levou a mão ao peito, arrastou as unhas pela pele enquanto fechava o punho e apertava-o contra a pele. Estava quente. Já não sentia o músculo há muito tempo. No entanto, naquele momento, ele pulsou! Como mágica, o órgão criou vida novamente, fazendo o sangue circular, aquecendo o corpo em pontos já esquecidos. E batia descontrolado, descompassado, desorientado de uma dor que era gostosa de sentir!
Fechou os olhos, os lábios se entreabriram num gemido que não sei dizer se era de desconforto ou de prazer. Uniu as sobrancelhas e deixou o sentimento fluir, aliviando um pouco o aperto no peito, mas levando a agonia para todas as partes do corpo. Um milhão de dúvidas percorrendo tranquilamente seu sistema circular. Mas novamente, como mágica, tudo foi esquecido! Houve luz. Tudo fez sentido, porque – devido a alguma força maior – houve amor.
O corpo queimava e ardia conforme o sangue apaixonado percorria as veias e artérias. Lágrimas verteram. Não havia mais volta. Não havia erro ou engano. O Coração havia escolhido.
Os lábios se apertaram numa linha fina, os olhos se espremeram com a luz. E nada mais no mundo foi importante, porque eram os olhos amados que tinha em seu campo de visão. E já não era preciso sentido nenhum no mundo para que entendesse. Para que ambos entendessem.
Que estava escrito. Numa árvore, numa pedra, na parede de uma caverna - nas estrelas, quem sabe? Não importa onde, estava escrito.
Estava escrito e pulsava com tanta força, que doía. Doía e pedia por contato, por braços e abraços e calor. Não havia mais frio, afinal. Havia apenas a certeza de algo que cresce, que brota mesmo sem dever. Algo que não é amarrado a limites ou a paixões tolas.
Algo avassalador! Que não tem barreiras e nem medos, que tem vontade própria e que não aceita cabrestos ou conselhos. Algo que queima, que cria, que faz viver e faz querer viver. Que torna tudo bonito e tudo nosso. Que traz o céu pra palma de nossas mãos. E que não tira o que trouxe, jamais.
Entregou-se, o corpo tremendo no ritmo que o Coração ditava. Estendeu uma das mãos na direção que julgava certa e deixou-se guiar, deixou-se perder, deixou-se levar para qualquer que fosse o lugar. Cega pelo sentimento mais lindo do mundo, não se deixou sufocar pelo medo, teve esperança de que aqueles olhos tão amados estivessem bem a frente, apenas esperando ela se aproximar mais um pouco para tomar sua mão e exigir o que era seu por direito.

Com uma esperança que só é digna dos apaixonados, reza. E espera. Reza mesmo com toda a incerteza que lhe sufoca vez ou outra. E reza: reza para que não seja tudo dor, para que haja um final feliz. Reza para que seja este o seu final feliz. 

junho 10, 2013

Meu sorriso

            Era um daqueles dias em que tudo parece acordar sorrindo. Quando descemos as escadas do prédio, os degraus nos sorriram um ‘bom dia’ entusiasmado. Acenamos para o porteiro, que retribuiu um aceno com um sorriso condicente, de quem já foi apaixonado e sabe o bem que faz viver um grande amor. Lá na rua, quando pousamos na calçada, esbaforidos e apaixonados, logo nos perdendo nos braços um do outro, quase atropelamos duas senhorinhas, que riram deliciadas com o afeto juvenil. E assim, com a benção de quem nos observava, continuamos caminhando juntos, de mãos dadas, dedos e corações entrelaçados. Não tínhamos um destino ou um plano traçado, apenas nossas almas “quase gêmeas” e a vontade de ficarmos juntos.
            Pra sempre? Não... “Sempre” é tempo demais. Queríamos ficar juntos até o fim! “Até o fim da vida?” Não, não, meu amor. Deixemos a morbidez de lado. Eu quero viver cada segundo desse sentimento, quero que ele dure até o fim da vida! Quero que dure depois, também. Seríamos dois espíritos felizes e em paz. Poderíamos alugar uma quitinete na Via Láctea e estaríamos bem com a companhia um do outro. Das estrelas e de todas as outras galáxias que sonharíamos ver pela janela.
            Mas naquele dia, estávamos dispostos só a pensarmos um no outro, a nos entregarmos um ao outro. Sem todos os planos para o futuro ou a pressão externa para que definíssemos o que nos mantinha unidos.
            – É amor? – Ele me perguntava risonho, e com um rolar de olhos, eu rodopiava e afirmava ser mais! – Mais o que, afinal de contas?
            – É mais do que qualquer coisa que já vivi até agora. É mais do que qualquer um dos meus sonhos!
            E juntos, nós fomos entre rodopios e trocas de olhares, sorrisos e carinhos discretos. Fomos para onde o coração mandou, juro por Deus. Nós não tínhamos planos e nem tínhamos vontade de tê-los. Quando dei conta de onde estávamos, as árvores que velaram muitos dos meus outros beijos estavam ali, nos cercando, abençoando como se dissessem que ali, onde eu já tinha me confundido com tantos outros sentimentos, encontraria o único capaz de me guiar pela escuridão.
            Foi ao lado dele, meu farol, que deitei na relva. Dividimos um sorvete e uma porção de balinhas de gelatinas entre beijinhos e cafunés. Ali, o mundo parou e eu nem vi. Meu mundo parou e eu nem senti.
            Parece que daquele momento em diante, todos os meus erros foram revertidos em felicidade. Meus erros me levaram a ele, e junto dele era exatamente onde eu devia estar! Não que só ali eu tenha entendido a imensidão do que sentia, não! Eu sabia desde o primeiro sorriso que seria a coisa mais maravilhosa da vida. Mas a partir daquele momento, eu soube que era a coisa mais maravilhosa da vida dele também.
            E nada mudou. Nós continuamos displicentemente deitados ali até anoitecer, ignorando as chamadas e as mensagens. Nós ignoramos o mundo. Fomos o centro do mundo. E aí, naquela pracinha antiga, nós nos tornamos o mundo um do outro.
            – No que você tá pensando? – Perguntei num sussurro, a pontinha do nariz deslizando com delicadeza pela maçã do rosto.

            – Eu estou pensando em você. – Respondeu com o sorriso mais lindo do mundo. O sorriso mais lindo do meu mundo.