Se
chamava Carolina, mas não gostava do apelido “Carol”. Gostava de usar all star
vermelho e desenhar o símbolo do infinito, infinitas vezes até perder o rumo da
mão. Aliás, ela gostava de perder o rumo de tudo, gostava de perder o fio da
meada do livro, da música, da receita de pudim de leite condensado e do estudo
matinal obrigatório.
Naquele dia em especial, os desenhos infinitos do
infinito não a deixaram cansada o suficiente. Arrumou-se na cadeira, mas não ficou
confortável o suficiente. Arrumou-se de novo por mais duas vezes, e só sossegou
quando cruzou ambas as pernas para cima do assento. Estalou todos os dez dedos
das mãos e prendeu o cabelo curto num rabo desarrumado. Estava só de camisola
e, céus! ela adorava ficar só de camisola o dia inteiro!
Precisou de um tempo para pensar no que queria fazer com
aquela folha em branco na sua frente. Desenhar mais infinitos não estava no
roteiro, então quebrou a cabeça até não conseguir pensar em mais nada. Suas
ideias haviam acabado.
Foi então, que pensou num ótimo tema para a folha em
branco. Molhou a ponta da caneta na língua (não que precisasse, era só uma
mania enjoada), e escreveu bem retinho sobre a folha vertical. “Coisas que
acabam”. Carolina odiava folhas deitadas na horizontal.
Pensou um minuto e anotou o primeiro item da lista: 1-
Boas ideias.
Avaliou a própria letra e umedeceu os lábios, virando o
rosto em seguida e avaliando o cômodo vazio, como se buscasse inspiração para o
próximo item. E conseguiu! 2- Pudim.
Escreveu então, a numeração para mais oito itens, somando
dez em sua lista. Depois de terminar o desenho dos números, escreveu mais um,
3- Paciência. E logo em seguida, mais outro: Música. E mais outro, e mais outro
e mais outro!
Livros, vida, grama (?) e grana!
Mas quando escreveu sobre a grana, lembrou-se que tinha
aquela gelatina de limão na geladeira. Carolina adorava gelatina de limão, por
isso, abandonou a lista como quem abandona um grande amor inventado.
Mentalmente, adicionou à lista de coisas que acabam o amor. Sem se preocupar
com o último item, deslizou para perto da geladeira e, sozinha, comeu dois
potinhos da gelatina de limão.
Sozinha.
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