agosto 07, 2013

"Coisas que acabam"

                Se chamava Carolina, mas não gostava do apelido “Carol”. Gostava de usar all star vermelho e desenhar o símbolo do infinito, infinitas vezes até perder o rumo da mão. Aliás, ela gostava de perder o rumo de tudo, gostava de perder o fio da meada do livro, da música, da receita de pudim de leite condensado e do estudo matinal obrigatório.
            Naquele dia em especial, os desenhos infinitos do infinito não a deixaram cansada o suficiente. Arrumou-se na cadeira, mas não ficou confortável o suficiente. Arrumou-se de novo por mais duas vezes, e só sossegou quando cruzou ambas as pernas para cima do assento. Estalou todos os dez dedos das mãos e prendeu o cabelo curto num rabo desarrumado. Estava só de camisola e, céus! ela adorava ficar só de camisola o dia inteiro!
            Precisou de um tempo para pensar no que queria fazer com aquela folha em branco na sua frente. Desenhar mais infinitos não estava no roteiro, então quebrou a cabeça até não conseguir pensar em mais nada. Suas ideias haviam acabado.
            Foi então, que pensou num ótimo tema para a folha em branco. Molhou a ponta da caneta na língua (não que precisasse, era só uma mania enjoada), e escreveu bem retinho sobre a folha vertical. “Coisas que acabam”. Carolina odiava folhas deitadas na horizontal.
            Pensou um minuto e anotou o primeiro item da lista: 1- Boas ideias.
            Avaliou a própria letra e umedeceu os lábios, virando o rosto em seguida e avaliando o cômodo vazio, como se buscasse inspiração para o próximo item. E conseguiu! 2- Pudim.
            Escreveu então, a numeração para mais oito itens, somando dez em sua lista. Depois de terminar o desenho dos números, escreveu mais um, 3- Paciência. E logo em seguida, mais outro: Música. E mais outro, e mais outro e mais outro!
            Livros, vida, grama (?) e grana!
            Mas quando escreveu sobre a grana, lembrou-se que tinha aquela gelatina de limão na geladeira. Carolina adorava gelatina de limão, por isso, abandonou a lista como quem abandona um grande amor inventado. Mentalmente, adicionou à lista de coisas que acabam o amor. Sem se preocupar com o último item, deslizou para perto da geladeira e, sozinha, comeu dois potinhos da gelatina de limão.

            Sozinha. 

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