Com
um suspiro, reconheceu o sentimento. Levou a mão ao peito, arrastou as unhas
pela pele enquanto fechava o punho e apertava-o contra a pele. Estava quente. Já
não sentia o músculo há muito tempo. No entanto, naquele momento, ele pulsou!
Como mágica, o órgão criou vida novamente, fazendo o sangue circular, aquecendo
o corpo em pontos já esquecidos. E batia descontrolado, descompassado,
desorientado de uma dor que era gostosa de sentir!
Fechou
os olhos, os lábios se entreabriram num gemido que não sei dizer se era de
desconforto ou de prazer. Uniu as sobrancelhas e deixou o sentimento fluir,
aliviando um pouco o aperto no peito, mas levando a agonia para todas as partes
do corpo. Um milhão de dúvidas percorrendo tranquilamente seu sistema circular.
Mas novamente, como mágica, tudo foi esquecido! Houve luz. Tudo fez sentido,
porque – devido a alguma força maior – houve amor.
O
corpo queimava e ardia conforme o sangue apaixonado percorria as veias e
artérias. Lágrimas verteram. Não havia mais volta. Não havia erro ou engano. O
Coração havia escolhido.
Os
lábios se apertaram numa linha fina, os olhos se espremeram com a luz. E nada
mais no mundo foi importante, porque eram os olhos amados que tinha em seu
campo de visão. E já não era preciso sentido nenhum no mundo para que
entendesse. Para que ambos entendessem.
Que
estava escrito. Numa árvore, numa pedra, na parede de uma caverna - nas
estrelas, quem sabe? Não importa onde, estava escrito.
Estava
escrito e pulsava com tanta força, que doía. Doía e pedia por contato, por
braços e abraços e calor. Não havia mais frio, afinal. Havia apenas a certeza
de algo que cresce, que brota mesmo sem dever. Algo que não é amarrado a
limites ou a paixões tolas.
Algo
avassalador! Que não tem barreiras e nem medos, que tem vontade própria e que
não aceita cabrestos ou conselhos. Algo que queima, que cria, que faz viver e
faz querer viver. Que torna tudo bonito e tudo nosso. Que traz o céu pra palma
de nossas mãos. E que não tira o que trouxe, jamais.
Entregou-se,
o corpo tremendo no ritmo que o Coração ditava. Estendeu uma das mãos na
direção que julgava certa e deixou-se guiar, deixou-se perder, deixou-se levar
para qualquer que fosse o lugar. Cega pelo sentimento mais lindo do mundo, não
se deixou sufocar pelo medo, teve esperança de que aqueles olhos tão amados estivessem
bem a frente, apenas esperando ela se aproximar mais um pouco para tomar sua
mão e exigir o que era seu por direito.
Com
uma esperança que só é digna dos apaixonados, reza. E espera. Reza mesmo com
toda a incerteza que lhe sufoca vez ou outra. E reza: reza para que não seja
tudo dor, para que haja um final feliz. Reza para que seja este o seu final
feliz.