maio 23, 2012

Tartarugas.

    Liberdade, acima de tudo. Nascem independentes e já correm na direção do mar - tão feroz, com seus dentes de ondas enormes e monstros que tiram qualquer um do sério. E, mesmo assim, elas correm sem medo. Talvez porque tenham certeza de que há algo maravilhoso lhes esperando ou porque não tenham medo dos monstros, não até eles se tornarem real. Afinal de contas, idealizar e alucinar coisas as torna muito piores do que a realidade.
    E quando não se tem medo do mundo, ele se torna quase indefeso. No fim, o comando de tudo é nosso.
    E tartarugas parecem saber disso. Porque correm, livres e bem dispostas, acreditando e esperando algo melhor do que uma porção de areia que as sufoca a cada segundo no seu relógio digital. 
    Nessas horas, queria ser uma tartaruga, fechar os olhos e correr. Correr sem medo, de braços abertos, acreditando em algo melhor e em dias melhores. E em sonhos melhores. E em pessoas melhores. Só acreditando. 
    E nadando. 

maio 22, 2012

Monotonia

tic-tac do relógio era um martírio. Cada segundo que passava era uma punhalada em seu coração. E a cabeça já pesava pela falta do que fazer. Falta do que falar. Falta do que sentir e de todo o resto possível. E havia um vazio inexplicável em cada uma das opções quase plausíveis. E havia o cheiro férreo que poluía suas narinas, que infliltrava-se em sua pele e agarrava-se aos cabelos, aos pelos, aos apelos e que grunhia, revoltado. E o vermelho inundava o chão, penetrava as roupas e todo o resto do cômodo. Havia vermelho em todos os lugares e vermelho em nenhum coração. E cada segundo era uma punhalada. Mas não eram os segundos... Era alguém. E já não havia o que fazer. Afinal, o que é que se faz em morte? Monotonia era sua nova realidade. E já não podia desvencilhar-se dos dedos enegrecidos pelo véu da morte que sugava-lhe para baixo. E para baixo. E para o fim de todo o resto. Não houve mais em que se agarrar. Suspirou. E já não sentia o vermelho que borrava o chão e sua visão. Monotonia era tudo o que sentia agora.