março 01, 2013

Dois anos


            O primeiro dia de um novo mês representa muitas coisas. Para muitos, ele representa pagamento, o alívio do sufoco que é o fim do mês e a fartura que vem com o começo de um novo. Para outros, é uma nova fagulha de esperança, uma chance de ser melhor, de recomeçar. E ainda há outros, os que acreditam que com os novos meses, vem novas energias, novas formas de melhorar o mundo, coisas melhores, coisas mais bonitas. Para mim, o primeiro dia de cada mês trás um peso enorme consigo.
            Todo mês que começa traz com ele o peso de mais um mês que começo sem você. E, diferente do que dizem, o tempo parece não fazer efeito sobre essa ferida. Dias, semanas, meses... Essas medições de tempo não parecem ter soluções benéficas sobre a saudade que tem me rondado. Pelo contrário, o tempo só parece aumentar esse dor incomoda, acentuar o aperto no peito e fazer crescer o vazio que surge toda vez que preciso de você e não encontro o seu colo.
            Mais do que nunca, papai, eu sinto falta do seu colo. Sinto falta de como você afastava todos os problemas do mundo só com um abraço. Sinto saudades de como você ria, de como sempre encontrava as palavras certas para me acalmar, saudades de como você brincava, como contava boas histórias e como cantava. Ah, paizinho... Eu sinto saudades de como você cantava.
            Saudades das tardes que passávamos cantando, você tocando seu violão. Sinto saudade de como você era meu astro, mesmo sem saber tocar direito. Sinto falta até de quando você desafinava. Sinto falta das nossas pequenas divergências. Saudades das broncas, dos sermões...
            É incrível, papai, meu eu sinto falta das noites que passei em claro pra você, quando a doença começou a piorar. Eu sinto falta de ficar com os dedos doendo por fazer massagem em você durante muito, muito tempo. Lembro de como você me fazia deitar do seu lado e me contava as histórias da sua vida, uma a uma, com a paciência que só um pai tem.
            É triste saber que você nunca vai terminar de conta-las pra mim. É triste saber que, o pouco que eu vier a saber agora, será pela boca de outros, não pela sua. Qualquer história que eu ouça agora, não vai vir acompanhada da sua voz grave, dos sorrisos entre as palavras e do amor que você colocava em cada vírgula.
            Eu sinto falta dos seus olhos, de como você se comunicava comigo através deles. E, sabe, paizinho... Eu sinto tanta falta... tanta falta. E dói muito saber que eu nunca mais vou encontrar alguém com olhos tão claros quanto os seus, ou olhos que falem tanto quando os seus.
            Já se passaram dois anos, mas a dor ainda é a mesma. Acho que a dor sempre vai ser a mesma. Sempre que eu começar a me lembrar do quanto sinto saudades, vou acabar chorando assim, manchando o papel e soluçando baixinho. Eu ainda sou uma criança assustada, papai. Eu ainda não estou pronta para me conformar com o que houve. Na verdade, pai, eu acho que nunca vou estar.
            Mas sei. Eu sei que, mesmo com toda essa dor e essa saudade que nunca tem fim, nós não estamos realmente separados. Na verdade, sei que quando a saudade aperta assim é quando estamos mais próximos. Eu sinto que você não me deixa em momento algum, que guia meus passos de onde está e que intercede por mim. Sei que é orgulhoso do caminho que eu e as meninas estamos seguindo. E espero sinceramente, papai, que esteja orgulhoso da forma que eu tenho cuidado delas.
            Aliás, uma forma de aguentar a saudade absurda é olhar para elas. Sempre que olho a mamãe, tenho certeza do quanto se amaram. E dentro dela, o amor de vocês ainda vive. Esse amor é uma parte sua que ela leva como uma lanterna, iluminando o caminho. Iluminando o nosso caminho.
            Você se espantaria ao ver nossa Anninha. Ela está enorme e ainda não acredito na semelhança de vocês. Ela tem o seu sorriso... Ela tem a mesma doçura que você, papai. E o colo dela é quase tão bom quanto o seu. E Anna Clara é a parte mais viva de você que eu tenho.
            Quando as coisas ficam muito difíceis, eu me apoio nelas. Eu penso nelas e em tudo o que ainda preciso fazer por nossas duas meninas. Sempre que sinto que posso sucumbir, eu me lembro do que pediu para mim. E, sim, papai. Independente do que haja, eu vou cuidar delas. Eu vou.
            Sinto que já perdi o rumo do que queria dizer... E isso tem sido constante desde que você se foi. Mas acredito que algum dia melhore, que de alguma forma, melhore.
            Papai, você foi a melhor pessoa que conheci. O homem mais honroso e digno de felicidade do mundo. E eu sei que, onde quer que você esteja, está recebendo toda a felicidade que merece. Não se preocupe conosco, nós estamos cuidando umas das outras, nós estamos seguindo em frente, por mais que doa e por mais que a saudade seja sufocante.
            Nós estamos vivendo por você e em memória a você.
            “Nunca se esqueça nenhum segundo que nós temos o amor maior do mundo. Como é grande o nosso amor por você.” Sempre eterno e infinito o nosso amor por você. 

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