Ela
acordou. E tudo parecia pior do que no sonho que tivera durante a noite. Gritou
um “bom dia” amigo para as paredes que fingiram não ouvir nem se preocupar com
o sofrimento que estava estampado em seus olhos.
Levantou-se
da cama, esticou o cobertor, olhou-se no espelho e a figura que viu parecia dez
anos mais velha: um ser estranho, obrigado a crescer da noite para o dia,
deformado, cheio de dúvidas e de medos. E o pior, encontrou esse ser refletido
sozinho e com um fardo pesado demais
para carregar.
O medo
tomou conta de seu corpo, esfriando o estômago, dando um nó em sua garganta e
em seus pensamentos. Ela perguntou-se quem era. E perguntou-se também como
havia chegado ali, revisou os caminhos, os atalhos e a dúvida surgiu. Deus,
estaria ela fazendo tudo certo? Quem garantia que um dos caminhos não fora o errado e que seu objetivo
fora sempre certo?
Olhando-se
no espelho frio, ela notou que estava certa sim. Mas definitivamente errada.
Assustada. Não, apavorada. Estava mais velha, mas mais incerta que uma criança
pequena no meio de uma multidão. Estava menos vulnerável. Ou seria o contrário?
A
questão é que as paredes continuavam a ignorando. Em cada passo, em cada
atividade que fazia. Soltou o cabelo bagunçado e tentou tornar-se mais
apresentável para a vida que lhe esperava. Mas até esse gesto pareceu mecânico.
E quando seus lábios se separaram para o café da manhã, ela sentiu como se
fossem espinhos descendo e rasgando sua garganta.
E o
chão tornou-se rubro. As lágrimas também. E todo o medo ao redor do corpo
pequeno. Era tudo vermelhidão enquanto ela vomitava a seco, tentando consertar
as coisas erradas e juntar os pedacinhos de um cristal que havia se partido há
muito tempo.
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