julho 17, 2012

Buenos dias.


                Ela acordou. E tudo parecia pior do que no sonho que tivera durante a noite. Gritou um “bom dia” amigo para as paredes que fingiram não ouvir nem se preocupar com o sofrimento que estava estampado em seus olhos.
                Levantou-se da cama, esticou o cobertor, olhou-se no espelho e a figura que viu parecia dez anos mais velha: um ser estranho, obrigado a crescer da noite para o dia, deformado, cheio de dúvidas e de medos. E o pior, encontrou esse ser refletido sozinho e com um fardo  pesado demais para carregar. 
                O medo tomou conta de seu corpo, esfriando o estômago, dando um nó em sua garganta e em seus pensamentos. Ela perguntou-se quem era. E perguntou-se também como havia chegado ali, revisou os caminhos, os atalhos e a dúvida surgiu. Deus, estaria ela fazendo tudo certo? Quem garantia que um dos  caminhos não fora o errado e que seu objetivo fora sempre certo?
                Olhando-se no espelho frio, ela notou que estava certa sim. Mas definitivamente errada. Assustada. Não, apavorada. Estava mais velha, mas mais incerta que uma criança pequena no meio de uma multidão. Estava menos vulnerável. Ou seria o contrário?
                A questão é que as paredes continuavam a ignorando. Em cada passo, em cada atividade que fazia. Soltou o cabelo bagunçado e tentou tornar-se mais apresentável para a vida que lhe esperava. Mas até esse gesto pareceu mecânico. E quando seus lábios se separaram para o café da manhã, ela sentiu como se fossem espinhos descendo e rasgando sua garganta.
                E o chão tornou-se rubro. As lágrimas também. E todo o medo ao redor do corpo pequeno. Era tudo vermelhidão enquanto ela vomitava a seco, tentando consertar as coisas erradas e juntar os pedacinhos de um cristal que havia se partido há muito tempo. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário